Nasci em Paratinga – BA em 13/09/1979
onde vivi até os 05 anos após a separação dos meus pais mudamos para
Brejolândia – BA com minha mãe e dois irmãos, minha mãe embora fosse professora
estadual e lecionasse dois turnos sofria fortes preconceitos da sociedade
inclusive de sua própria família por ter se tornado uma mãe solteira, aos sete
anos de idade eu já me envolvia em diversas confusões exigindo respeito
inclusive dos adultos que a ofendia, nessa idade eu tive o meu primeiro porre. Dentre muitas de minhas peripécias fui
atingido por um raio, sofri uma perca muito grande dos meus neurônios, tive
início de epilepsia e tomei fortes medicamentos, depois de mais de 02 anos de
tratamento médico com vários especialistas e eletroencefalogramas tive o meu
primeiro contato com as tecnologias populares quando uma humilde senhora disse
pra minha mãe que o que iria me matar não seria a doença que eu tinha, mas sim
os medicamentos que eu estava tomando, dentre muitas recomendações adotei o
aguardente alemã como tratamento e em seis meses eu estava curado.
A essa altura da minha vida eu já
tinha conseguido ser expulso de 03 colégios e freqüentado a delegacia com mais
freqüência que o carcereiro, mas o mais incrível eu nunca alterei a voz pra
minha mãe ou a respondi desrespeitosamente, eu a tratava como minha deusa e a
enchia de carinhos, embora grande parte da cidade me considerasse um diabo. Em
um dos prantos da minha mãe devido a uma de minhas transgressões eu a prometi
me tornar o melhor aluno da turma a partir da 6º série rapidamente eu cumpri a
promessa, representei o meu colégio em várias competições e depois a cidade em
simpósios estudantis com uma notável participação em todas as realizações
juvenis de Brejolândia - BA.
Ainda aos 16 fui impulsionado a sair
da minha cidade devido ao envolvimento com mulheres cheirando a chumbo, somado
ao desejo de servir minha pátria no céu brasileiro, a bebida me levou ao
fracasso na prova da EPICAR (Escola preparatória de cadetes do ar), me restando
simplesmente servi como soldado, em uma de minhas apresentações ao chegar
atrasado pra carimbar o meu canhoto, um soldado antigo me provocou e depois me
perguntou o que melhor eu sabia fazer, eu o respondi sinceramente beber,
transar e brigar, foi o suficiente pra reunir vários sargentos em minha volta e
providenciar o meu ingresso ao BINFA-6 no exato momento ficando pra quarentena
sem os meus pertences pessoais. Semanas depois é que minha mãe de Brejolândia –
BA fez com que chegasse algumas coisas que eu precisava.
Durante todo o curso de formação de
soldado dentre as instruções de RDAR, ordens unidas, educação física,
instruções de armamento, estande de tiro, abordagem de viaturas, abordagem de
recinto, abordagem de indivíduo, controle de tumulto, ação e reação, depositavam
em mim sentimentos de revolta e submissão com tratamentos degradantes e
insultantes a dignidade da pessoa humana, não sei como poderiam imaginar que
maus tratos e tortura psicológicas poderia contribuir na formação de um
profissional, era explícito que os cães eram melhor tratados e respeitados do
que os recrutas e soldados do batalhão, na segunda turma de 98 a minha rebeldia
já estava em evidência desde o meu primeiro dia, então as provocações eram
constantes, me faziam dobrar serviço com freqüência embora eu fosse mais antigo
da equipe, me tiravam da fila de
doadores de sangue dizendo que o meu sangue não prestava, me colocavam como
cobaia em tudo que oferecia constrangimento, risco ou dor, então não foi
difícil deixar a minha ficha repleta de pernoites, detenções e cadeias.
A ausência da razão era tanta que vi
dois colegas se matarem um por ser detido por uma mísera conta em um bar no
Gilberto Salomão, impuseram tanta pressão que o camarada sacou a pistola 9 mm
de uns dos soldados que o escoltava junto com o oficial e atirou na própria cabeça,
o outro por uma simples denúncia em um envolvimento em clonagem de carro
desabaram em cima do garoto até que ele se enforcou com o cadarço do próprio
tênis.
Em minha ultima prisão antes de ser
expulso me deixaram preso por mais de 30 dias por ter revidado as agressões de
dois superiores, sem que tivesse ido à audiência embora o RDAR condenasse esse
procedimento, depois de desistir da idéia de passar fogo nos miseráveis que me
perseguiram e aterrorizavam a vida dos soldados do meu batalhão em virtude do
surgimento de uma gravidez inesperada de uma aventura sexual, (mulher que hoje
é minha esposa e filho que hoje tem 11 anos) movi um processo judicial contra a
FAB – Força Aérea Brasileira e por incrível que pareça ao requisitar mina ficha
na CIC – Cessão de Investigação e Captura no meu histórico eu não tinha uma
única punição, estava descrito como um soldado exemplar e recebi o meu
Certificado de Reservista de primeira categoria, e ainda uma compensação de 2
mil reais, todos ficaram perplexos inclusive eu.
Durante todo esse processo retornei
pra Capoeira e procurei me aprofundar sobre a história do meu país e as leis
que o regia, procurei apoio para o meu alcoolismo na irmandade de AA em
11/julho/2000 entrei em uma reformulação de vida, e aprendi a considerar o meu
corpo como o meu maior patrimônio, foi então que percebi que nós éramos
treinados pra matar e ferir e acatar toda espécie de ordens absurdas inclusive
contra o nosso próprio povo pelo capricho de quem os governava. Senti vergonha
da minha farda e jurei nunca mais ser vítima ou me omitir diante da opressão.
Hoje sou um exímio capoeira plebeu
sem título, sem poder aquisitivo e sem posição social cobiçada, mas desafio o
mundo a apresentar um ser humano mais homem do que eu, sirvo o meu país e o meu
povo com orgulho, enfrentaria anjos e demônios em sua defesa, vivo sem correntes,
sem mordaças e sem vendas.
A única coisa que eu busco junto a
Deus é uma vida livre, saudável, digna, honrada e que eu possa olhar nos olhos
da morte quando ela me espreitar sem o estigma da covardia e sem a dúvida de
que eu tive uma vida plena. Cipó Cristino Júnior
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