O messianismo judaico não era um homem liderar um "exercito" de judeus para liberta-los do jugo?
Jesus copiou Simão de Pereia?
Simão de Peréia:
Entre a morte de Herodes (4 AC) e a queda de Jerusalém (73 DC), houve uma série de agitadores, pregadores itinerantes, milagreiros, profetas que lideraram revoltas ou movimentos messiânicos. Uma lista deles é apresentada aqui, peloProfessor Jona Lendering [4]. Como pode ser observado, a principal (e na maioria das vezes única) fonte para todos eles é Josefo. No âmbito de seu primeiro livro "Guerras Judaicas", o relato de figuras contemporâneos de Josefo, com as quais ele teve oportunidade de interagir pessoalmente, como João de Giscala, Menaem eSimão Bar-Giora, é bastante detalhado. Eles são apontados como rebeldes fanáticos que levaram o povo judeu a catástrofe que causou a destruição de Jerusalém. Então eles são, de alguma forma, a razão de ser daquela narrativa. No entanto, para os pretendentes messiânicos mencionados em Antiguidades, e mesmo nos dois primeiros livros de Guerras Judaicas (no período anterior ao incio do conflito em 66 DC), como Teudas, Judas Galileu, João Batista e Simão de Peréia os relatos são geralmente muito curtos, não excedendo alguns parágrafos. Se observamos a história desses pretendentes messiânicos, vamos perceber um padrão de aparecimento súbito, origem obscura, são seguidos por multidões, e, diante da ação repressora das autoridades, o lider é capturado ou foge, e os seguidores se dispersam [5].
Entre a morte de Herodes (4 AC) e a queda de Jerusalém (73 DC), houve uma série de agitadores, pregadores itinerantes, milagreiros, profetas que lideraram revoltas ou movimentos messiânicos. Uma lista deles é apresentada aqui, peloProfessor Jona Lendering [4]. Como pode ser observado, a principal (e na maioria das vezes única) fonte para todos eles é Josefo. No âmbito de seu primeiro livro "Guerras Judaicas", o relato de figuras contemporâneos de Josefo, com as quais ele teve oportunidade de interagir pessoalmente, como João de Giscala, Menaem eSimão Bar-Giora, é bastante detalhado. Eles são apontados como rebeldes fanáticos que levaram o povo judeu a catástrofe que causou a destruição de Jerusalém. Então eles são, de alguma forma, a razão de ser daquela narrativa. No entanto, para os pretendentes messiânicos mencionados em Antiguidades, e mesmo nos dois primeiros livros de Guerras Judaicas (no período anterior ao incio do conflito em 66 DC), como Teudas, Judas Galileu, João Batista e Simão de Peréia os relatos são geralmente muito curtos, não excedendo alguns parágrafos. Se observamos a história desses pretendentes messiânicos, vamos perceber um padrão de aparecimento súbito, origem obscura, são seguidos por multidões, e, diante da ação repressora das autoridades, o lider é capturado ou foge, e os seguidores se dispersam [5].
O interesse por essas figuras não foi compartilhado pelos muitos escritores que viveram no período. Por exemplo, Filo de Alexandria (20 AC - 50 DC), não menciona nenhum dos pretendentes messiânicos citados pro Josefo. Ele nada diz sobre as violentas revoltas lideradas por Simão de Peréia, Atronges, ou Judas Galileu, em que milhares de judeus foram mortos, com seus cadáveres sendo pisados pelas botas dos soldados romanos. Embora Filo discuta o carater violento do Governador Pôncio Pilatos ocasionalmente, não menciona o comportamento dele em relação a Jesus de Nazaré ou a repressão violenta a multidão liderada peloprofeta Samaritano (episódio que levou a destituição de seu cargo). Fora dos escritos de Flávio Josefo, somente Lucas menciona a existência de alguns desses lideres populares (Teudas, o Egípcio, e Judas Galileu) em Atos dos Apóstolos, além de Tácito que faz uma breve referência a Simão de Pereia (único pretendente messiânico, além de Jesus, a ser citado em uma fonte greco-romana).
"Houve também um certo Simão, que tinha sido escravo do rei Herodes, mas em outros aspectos, uma pessoa decente, que tinha uma compleição alta e robusta, e muito superior aos outros de sua ordem, e a seus cuidados foram confiadas coisas muito importantes. Este homem se destacou no estado desordenado em que as coisas estavam, e foi tão ousado que colocou uma diadema na cabeça, e foi seguido por muitos apoiadores, que o proclamaram Rei, convencendo-se que era mais digno do que qualquer outro. "Ele queimou o palácio real em Jericó, e saqueou o que restou dele. Ele também ateou fogo em muitas outras das casas do rei em vários lugares do país, destruindo-os totalmente, e permitiu que aqueles que estavam com ele squeassem os despojos. Teria realizado maiores proezas, se medidas repressivas não tivessem sido tomadas imediatamente. [O comandante da infantaria de Herodes] Grato juntou alguns soldados romanos as forças que tinha com ele, e foi ao encontro de Simão . E depois de uma grande e longa luta, grande parte daqueles que vieram da Peréia (um corpo desordenado de homens, lutando de forma ousada, ainda que inábil) foram destruídos. Embora Simão tenha conseguido evadir-se através um vale certos, Grato alcançou-o e cortou-lhe a cabeça." (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas 17.273-276)
"Quando Herodes morreu, sem esperar pela decisão imperial, um certo Simão usurpou o título de Rei. Ele foi subjugado pelo Governador da Síria, Quintilio Varo, e naquela ocasião os judeus foram divididos em três reinos governados pelos filhos de Herodes. (Tácito, Historias 5:9)
Com o relatado acima, a morte de Herodes, o Grande, resultou em uma grande crise. Em várias partes da Judéia houve tumultos, e três líderes surgiram, Judas, Filho de Ezequias (algumas vezes identificado com Judas Galileu), na Galiléia;Atronges, na Judéia; e Simão na região em torno do Mar Morto. Os filhos de Herodes -Arquelau, Antipas e Filipe - não conseguiram sufocar a rebelião. Assim, o Legado Romano na Sírio, Quintílio Varo, teve de intervir. Marchando com três legiões sobre seu comando (cerca de 20 mil soldados), as tropas romanas destruiram Sefóris e Emaus, e crucificaram cerca de 2 mil pessoas (Guerras 2:72-77 e Antiguidades 17:286-298), numa das maiores execuções em massa já realizada pelo Império.
Apesar de ter sido uma revolta violenta, sufocada a um grande custo, e com dificuldade, o fato é que Flávio Josefo constitui, basicamente, nossa única fonte remanescente. Quanto aos lideres da rebelião, Simão de Peréia foi, provavelmente, o mais proeminente, tanto pela descrição de Josefo, quanto pelo fato de ter sido o único pretendente messiânico (anterior a Primeira Guerra Judaico Romana) do qual temos registro em autores romanos (além, é claro, de Jesus de Nazaré). Simão conseguiu um parágrafo em Tácito. Um feito surpreendente.
Nesse ponto, podemos ressalvar que é possível que existam fontes a respeito de Simão de Peréia (e Atronges), hoje perdidas, principalmente aquelas que possam ter sido utilizadas ou mencionadas por Tácito e Josefo. Infelizmente, nenhum dos dois nomeiam suas fontes (ou sequer declaram que utilizaram) nessa parte específica da narrativa. No entanto, é sábido que em Guerras, e principalmente em Antiguidades, Josefo utilizou as obras do secretário e historiador da corte de Herodes, Nicolau de Damasco, contemporâneo dos eventos. O Professor Ben Zion Wacholder, do Hebrew Union College, observa que Nicolau é uma fonte fundamental para os livros XIII a XVII de Antiguidades Judaicas, embora Josefo apenas ocasionalmente mencione a fonte em que se baseou, e os estudiosos tenham que analisar caso a caso (por exemplo, Josefo teria utilizado um relato detalhado de Nicolau sobre os hasmoneus em Antiguidades, mas não em Guerras) [6]. Embora nenhum dos livros de Nicolau de Damasco tenha chegado a nosso tempo, existe um número significativo de fragmentos, e o mais extenso é justamente o que lida com final do reinado de Herodes [6]. O relato de Nicolau seria de suma importância, uma vez que ele era um contemporâneo dos eventos, e seus escritos eram considerados confiáveis. No entanto, nesse longo fragmento Nicolau é extremamente sucinto no que se refere a revolta "Apos esses eventos, e passado um pouco de tempo, o Rei [Herodes] também morreu, e a nação se levantou contra seus filhos, e contra os gregos. Esses últimos contavam mais de dez mil. Na batalha que se seguiu os gregos foram vitoriosos" [7]. Ou seja, nos fragmentos disponíveis de Nicolau de Damasco, ele não menciona os líderes da revolta. Ainda, Wacholder observa que o "relato da revolta dos judeus como sendo direcionado contra os gregos, não é encontrado em Josefo" [7].
Sobre a possibilidade das partes perdidas de Nicolau de Damasco trazerem informações sobre seus Simão e os outros líderes da revolta, Professor Eliezer Paltiel, da Universidade de Melbourne, escreve:
Nicolau não pode reinvindicar direitos exclusivos sobre a narrativa de Josefo dos eventos da Guerra. Nicolau estava em Roma na época das hostilidades. Ele tinha ido para lá com o intuito de prestar um último serviço para o rei morto, defendendo a causa do seu filho mais velho sobrevivente. Nicolou estava profundamente cansado da Judéia, e não há razão para assumir que ele tenha tido interesse sobre os assuntos judaicos novamente. Como veremos, ele tinha boas razões para estar familiarizado com os relatórios militares, que chegaram a Roma, mas esses relatórios eram apenas uma parte da história. A partir deles é, em última análise, baseada Guerras Judaicas, II, 5, 1-3 (66-79); e Antiguidades Judaicas, XVII, 10, 11/09, 1 (286-299). Nestas passagens, Josefo não menciona pelo nome um único líder rebelde. Um nome que pode ter sido - e provavelmente foi - mencionado no relatório do general romano era a de Simão de Pereia, que acabou encontrando abrigo nas páginas de Tácito. Tácito faz muitas honras a Simon, e seu relato esta em contradição com Guerras Judaicas, II, 4, 2 (59); e Antiguidades Judaicas, XVII, 10, 6 (276). Devemos concluir então que o relatório do comandante romano foi um pouco enganoso. Josefo, no entanto, possuía informações mais detalhadas sobre os diversos. rebeldes, que ele nos apresenta em Guerras, II, 3, 4-4, 3 (5 1 -65) e em Antiguidades Judaicas, XVII, 10, 3-8 (265-285) (14). [8]
Na sequência Paltiel conclui que a descrição de Josefo sobre Simão, Atronges e Judas, Filho de Ezequias era proveniente "de fontes desconhecidas de Nicolau de Damasco" [8]. Em suma, nos não temos menção a Simão de Pereia nos fragmentos remanescentes dos livros do escritor contemporâneo Nicolau de Damasco, que tratam da revolta, e mesmo a possibilidade de que tenha se referido ao lider rebelde em outras partes, hoje perdidas, de sua obra utilizadas por Josefo, é improvável. No entanto, uma vez que o relato de Tácito contradiz em pontos importantes o de Josefo, é bem possível que o escritor romano tenha utilizado um relatório militar hoje perdido, mas o qual, de qualquer forma, ele não menciona, bem como qualquer outra de suas fontes sobre a revolta. Logo, estamos reduzidos a Tácito e Josefo no nosso conhecimento de Simão de Peréia.
("Aonde estão aquelas dezenas de historiadores contemporâneos, que viviam em torno do Mediterrâneo, quando se precisa deles! Porque eles não mencionaram Simão de Peréia e seus feitos? Bando de perguiçosos!!!!)
Como observam o Professor John D Crossan e o Professor Jonathan Reed
"Na Antiguidade, os governantes, os ricos ou seus escribas eram os únicos que sabiam ler e escrever, assim, as histórias, biografias e narrativas que sobreviveram até hoje foram escritas ou ditadas principalmente pelos poderosos. Interessavam-se por pessoas públicas e por conflitos públicos. Pouco se importavam com a vasta maioria do povo e com o que acontecia nas pequenas cidades ou vilas rurais, como, por exemplo, a pequena vila de Nazaré, a não ser quando causavam problemas ou ameaçavam a estabilidade e a economia" [9]
Assim, assumindo que Jesus congregou multidões em número semelhante a de alguns desses pretendentes messiânicos, teriamos que a sua atestação reflete justamente o que se esperaria de um lider carismático que reune multidões alvoroçadas com a possibilidade de terem encontrado o Messias. Os autores que escreviam as grandes histórias do período, como Josefo, Tácito, Suetônio simplesmente não estavam interessados em líderes carismáticos, profetas e milagreiros populares de provincias pouco importantes; seu interesse surgia apenas quando lideram movimentos que perturbações na pax romana. Nesse aspecto, para Tácito ou Josefo, por mais estranho que possa parecer em nossa perspectiva, alguém como Simão de Peréia merecia mais espaço do que Jesus, justamente por ter representado uma maior perturbação a ordem estabelecida. Em sua visão Jesus e (principalmente) os cristãos representavam uma fonte de amolação e problemas, as menções a Jesus e seu movimento em Tácito, Plínio e, Suetônio se referem a tumultos em que os cristãos estavam envolvidos e o Testemunho Flaviano original muito provavelmente relatava uma atrocidade cometida contra Jesus (a crucificação de um inocente), ou um Tumulto causado por causa dele. No entanto, nesse quesito, Simão de Peréia se saiu um pouco melhor, pois forçou três legiões a sairem de seus quartéis, e alguém como Quintilio Varo pode adicionar uma importante vitória militar em seu currículo. Por isso, Josefo e Tácito dedicam a ele mais espaço do que Jesus.
O leitor não deve ter a impressão que minimizamos o impacto desses pretendentes messiânicos. Os movimentos liderados por Atronges e Simão de Peréia devem ter varrido a Judéia como um terremoto, ou um tsunami. Impactaram violentamente a vida de dezenas milhares de pessoas. A questão é que seu "epicentro" estava muito distante das elites, e não representaram um impacto duradouro no curso do Império, além do problema comum a toda a antiguidade de que apenas uma pequena parte dos artefatos e escritos antigos chegou até nós. Em conjunto, a sobreposição desses fatores, atenuou seus efeitos, de forma que chegam até nós como punhados de frases em curtos parágrafos, como que se os movimentos que eles causaram tivessem sido leves tremores ou "marolinhas". Na verdade, é justamente o contrário: por terem perturbado muito, foi lhes concedido esse curto espaço, quase como notas de rodapé. Assim, o simples fato de que Jesus foi mencionado por Josefo e Tácito (mesmo que brevemente) é forte evidência que ele causou muita dor de cabeça.
Assim, podemos avaliar que a intensidade do impacto dos feitos de Simão de Peréia foi grande, a extensão desse impacto foi geral (3° nível em nossa escala, pois forçou a mobilização das legiões estacionadas na Síria, e a intervenção do Legado Imperial Quintilio Varo), embora o duração da revolta e seus efeitos tenha sido moderada, ja que, uma vez dominada, não forçou nenhum rearranjo permanente na estrutura politica e social da Palestina Romana.
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